Arquivo mensal: outubro 2016

Camille

Chove. Eu olho para janela e pingos caem em minha testa. O despertador soa e me recuso a esticar o braço. Não reconheço os meus afazeres e obrigações. Minhas dúvidas secam sobre a mesa, onde o pequeno raio de sol bate arduamente. Camille. Perco-me nos sonhos maldosos produzidos pelos seus olhos de esmeralda. Pretensioso da minha parte, reconheço, mas minhas cervejas acabaram e tenho que admitir meus segredos eróticos. Um pássaro bate no vidro. Olho para ele e ouço seu cantar. Sombrio em partes, calmo no resto. Lembro das farpas lançadas em mim na noite anterior. Creio que a possibilidade de criar mais esperanças com aquela liberdade está em um pequeno fio que segura cada parte do meu corpo, em uma espécie de lembrança esquecida. Levantei depois de cair da cama ao tentar enxergar as horas. Os livros estão jogados pelo chão, servindo como travesseiros para as minhas caídas.

Ao recompor-me dos destroços matinais, percorro minhas mãos pelo meu corpo para lembrar dos toques das meninas de tranças, perdidas propositalmente por entre os postes e árvores. Asseguro que seus perfumes são inolentes, talvez devido a quantidade de vezes que os lençóis dançaram em suas pernas. Mas não ligo meus desejos masculinos a pequenos fatos femininos e despreocupados. Entrelaço meus desejos com meus desprazeres em perdê-la para o tempo. Camille não era apenas uma mulher que a vida brotou em meus passos ligeiros. Ela era a mais pura que meu coração já sentiu. Sua jovialidade era excitante e seu rabo de cavalo balançava com sua cintura. Os girassóis giravam em seu pretexto e seguiam seu cheiro de curiosa.

Observá-la era um pecado. Virou minha sina. Uma vez a vi espiar um dos homens da fazenda. Ele trabalhava ferozmente, mas sabia que a maldade não batera em seus olhos naquele momento. Admiração, talvez. Ou sou ingênuo, quem sabe. Lembro da tarde de céu turquesa em que depositei um pequeno estalo em sua boca e senti-a devolver uma rosa como recompensa. Meus olhos reviraram pelo quarto ao retornar para o momento que sinto necessidade. Ela partiu. O tempo a levou de mim, penso assim. Não saberei o propósito desse nefasto desencontro. Imagino que seja o pagamento de meus pecados. Hoje, sei que supro minhas lembranças com as moças da praça, e tento sonhar com as noites de vigília em seu quarto de campo. Tento sonhar com o mistério de te tocar, Camille, em momentos de intensos sonos noturnos e brincadeiras ao sol.

Quero

Eu ando vagando pelos cantos molhados das ruas no outono. A semelhança da lágrima e chuva é que encontram o mesmo caminho ao descer pelo meu rosto. Não permito o descanso, pois relembro dos momentos de aflição e descuido. Os dias frios refletem minha alma como um paradoxo para a perfeição. Eu busco entender-me pelos espaços disponíveis para minha morada. Meu conhecimento próprio guia-se pela margem do seu. O meu encanto natural nasce a partir do seu natural. Meu desejo surge ao toque do seu. A cada passo dado, pergunto-me se sirvo para dar-te amor. Meu caminho perdido é de ilusão imprópria. A estrada da luxúria mostra-se condensada à necessidade de afeto. Escrevo o rascunho em um momento aleatório, inoportuno. Teorias jogadas e meu olhar permance na janela. A chuva cai se prende ao vidro. Eu quero a duvida. Eu quero o meu eu em você. Eu quero a necessidade de necessitar de você. Eu quero o proibido em não te ter totalmente, eu quero o conflito que cerca a mente em vários caminhos de adoração. Eu quero você. Aqui.